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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Qual a temperatura do feto dentro do útero materno? O que pode ocorrer se essa temperatura for alterada?


Pergunta de Elaine Pedrosa, por correio eletrônico.


A temperatura corporal humana média é de 37°C, e a do feto humano é superior à materna de 0,3 a 0,5°C. O aquecimento acima dessa temperatura pode perturbar o processo fisiológico normal do feto, causando, por exemplo, alteração de reações metabólicas ou da migração neuronal ou mesmo morte celular. As consequências são mais graves se essa mudança acontecer no primeiro e no início do segundo trimestres da gestação, quando se dá a organogênese, período em que ocorrem divisões e especializações celulares.

A elevação natural da temperatura do corpo da mãe é utilizada, em pesquisas, para estimar os riscos ao embrião causados pela elevação da temperatura fetal. Embora o risco seja muito pequeno no caso de elevações mínimas de sua temperatura, nunca é igual a zero. A elevação estimada de 1°C acima da temperatura basal fetal durante cinco minutos tem risco de aproximadamente 0,004% para anomalias discretas e de aproximadamente 0,048% para anomalias maiores.

Estudos que avaliaram os efeitos da temperatura materna acima de 38,3°C, por pelo menos 24 horas, no primeiro e início do segundo trimestres (período em que se dá a proliferação e a migração neuronal), demonstram maior risco para anencefalia (ausência total ou parcial da abóbada craniana), microcefalia (menor crescimento cerebral) e deficiência mental.

Maria de Lourdes Brizot
Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo

MAIS QUE DIÁRIOS VIRTUAIS


Blogs podem melhorar o desempenho escolar e estimular a interdisciplinaridade, aponta estudo.

Os blogs podem ser uma excelente ferramenta para melhorar o desempenho dos alunos em sala de aula e estimular a interdisciplinaridade. O uso desses diários virtuais por estudantes do Ensino Médio de uma escola em Minas Gerais contribuiu para aumentar suas capacidades de discussão e escrita, entre outros benefícios.

Os resultados da experiência, feita pela professora de produção textual Cláudia Rodrigues, fazem parte de sua dissertação de mestrado, orientada pela linguista Denise Bértoli Braga e apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A ideia de Rodrigues surgiu a partir da percepção de que o potencial de ferramentas como a internet permanecia pouco explorado na escola. “Os alunos sabiam muito mais sobre recursos da internet do que nós, professores”, diz.

Depois de uma tentativa fracassada de criar um blog próprio no qual os alunos comentassem e discutissem os assuntos publicados, Rodrigues experimentou usar essa ferramenta de forma menos centralizada: os blogs seriam dos alunos, e não da professora. “Percebi que trabalhar com a internet focada no educador não funciona”, avalia.

Rede de debates
Rodrigues dividiu suas turmas em grupos, que deveriam criar um blog onde se discutissem os temas abordados em sala de aula. “Os alunos se identificaram com o ambiente dinâmico e informal, em que a discussão não era só com o professor”, explica. Por meio dos posts e dos comentários, os debates iniciados na escola continuavam, não só entre os alunos, mas também com pessoas de fora, como pais e outros amigos.

O fato de o blog ser um espaço público contribuiu para melhorar a escrita dos estudantes, que passaram a ler mais e se informar melhor antes de discutir um assunto. “Os debates ficaram mais embasados e os textos, mais bem elaborados”, conta Rodrigues.

A professora ressalta que os resultados mais inesperados e positivos da atividade foram a interdisciplinaridade e a intertextualidade das discussões. Segundo ela, os alunos começaram a confrontar os temas e pedir dicas e opiniões de professores de outras disciplinas, o que não era, a princípio, o objetivo da experiência.

Resistência das escolas
Embora o uso de blogs em atividades escolares tenha sido tão produtivo, Rodrigues ressalta que há uma resistência em relação ao emprego dessa ferramenta. Segundo ela, existe preconceito – principalmente em relação à linguagem da internet –, que seria causado pela falta de informação dos representantes das instituições de ensino. “As escolas geralmente acham que a internet serve apenas para o lazer do estudante e é onde ele aplica somente aquela linguagem abreviada e fora dos padrões da norma culta”, comenta.

Rodrigues defende a variedade linguística e não condena o uso dessa linguagem abreviada típica do meio virtual. Mas ela ressalta que em nenhum dos 20 blogs criados os alunos usaram o “internetês”, mesmo sem ter havido uma orientação específica sobre a linguagem a ser adotada. “O aluno entendeu que era um blog educacional e, por isso, a norma culta não foi suplantada pela linguagem da internet”, relata. “A linguagem culta já é estabelecida e reconhecida e isso foi percebido pelos próprios alunos.”

Para a professora, os resultados do estudo mostram que é preciso repensar o papel da internet na vida do estudante. “O blog deve ser uma ferramenta do aluno e do professor, e a internet pode ser útil para todas as disciplinas”, completa.


Isabela Fraga
Ciência Hoje On-line

Dieta contra o esquecimento



Corte no consumo de calorias melhora memória de idosos, comprova estudo alemão.

Se você, caro leitor, está fora de forma, saiba que este não é o único motivo para começar uma dieta. Um estudo alemão publicado na revista PNAS desta semana comprova que o corte no consumo de calorias é capaz de aumentar a memória de idosos, além de gerar significativa perda de peso e redução no índice de massa corporal.

A pesquisa confirma resultados de estudos anteriores feitos com ratos. Testes haviam mostrado que dietas pobres em calorias e ricas em ácidos graxos insaturados – como os encontrados no azeite de oliva e em peixes – ajudaram a melhorar o desempenho da memória dos animais no envelhecimento.

Para verificar se os mesmos efeitos ocorrem em humanos, pesquisadores da Universidade de Münster, na Alemanha, selecionaram 50 idosos saudáveis (21 homens e 29 mulheres), com idade média de cerca de 60 anos, alguns com peso normal e outros em excesso.

Os participantes foram divididos em três grupos. Para o primeiro, foi prescrita uma restrição no consumo de calorias de até 30%. O segundo foi submetido a um aumento no consumo de ácidos graxos insaturados de até 20%, sem que a ingestão de gorduras totais fosse alterada. O terceiro não sofreu alterações na dieta.

Antes das intervenções alimentares e três meses depois, os pesquisadores avaliaram a função cognitiva dos indivíduos. “Encontramos um aumento significativo dos registros de memória verbal após a restrição calórica”, relatam no artigo. Os outros dois grupos não mostraram mudanças significativas na memória.

Memória, insulina e inflamações
Segundo os pesquisadores, esse aumento no desempenho da memória está relacionado com uma redução da atividade inflamatória e quedas nos níveis de insulina e da proteína C-reativa – que foram mais pronunciadas em indivíduos com melhor adesão à dieta.

Os resultados apontam um caminho para a investigação do papel da insulina e de inflamações no declínio cognitivo relacionado ao envelhecimento. “Nosso estudo pode ajudar a gerar novas estratégias de prevenção para manter as funções cognitivas na velhice”, acreditam os pesquisadores.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line

MARCHA PARA A EXTINÇÃO


Pinguim-imperador corre o risco de não sobreviver aos efeitos do aquecimento global, alerta estudo

Os ursos-polares acabam de ganhar um companheiro na incômoda posição de espécie ameaçada de extinção pelo aquecimento global. A maior das espécies de pinguim desaparecerá até o fim deste século se os bancos de gelo do oceano Antártico, ambiente fundamental para sua reprodução, derreterem como preveem os modelos climáticos.

A conclusão é de uma pesquisa franco-americana que analisou dez modelos diferentes do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) com previsões para o clima deste século e para a extensão dos bancos de gelo na área habitada pelo pinguim-imperador. Os resultados do estudo foram publicados esta semana na revista PNAS.

Endêmico da região polar antártica, o pinguim-imperador (Aptenodytes forsteri) é bastante conhecido do público por estrelar filmes como A marcha dos pinguins e Happy feet. Agora, ele passa a integrar a lista da fauna carismática que deve pagar a conta pelo aumento da temperatura. A espécie mais conhecida desse grupo talvez seja o urso-polar, endêmico da região ártica, no outro polo do planeta.

Os cientistas que analisaram os modelos do IPCC mostraram que todos eles levam a uma altíssima probabilidade de extinção dos pinguins-imperadores: a expectativa é que a população reduza de 6 mil para 400 casais de pinguins até 2100, um declínio de 93%.

Os pinguins-imperadores dependem da fina camada de gelo que se forma sobre o oceano Antártico para se reproduzir e se alimentar. As colônias são formadas nesses bancos de gelo, para que os pinguins possam realizar viagens ao mar aberto em busca de alimentos durante o período de incubação dos ovos e de criação dos filhotes.

Adaptação é única saída
Os autores acreditam que a diminuição dessa cobertura de gelo prejudicará o processo reprodutivo e afetará a dinâmica da vida dessa espécie. A única saída para o pinguim-imperador seria uma adaptação rápida ao novo cenário climático, o que envolve alterações nos seus estágios de desenvolvimento.

“Essa adaptação seria difícil, porque o pinguim-imperador é uma espécie de vida relativamente longa, enquanto o clima está mudando muito rapidamente”, diz à CH On-line o biólogo Hal Caswell, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (Estados Unidos), um dos autores do artigo. Os pinguins provavelmente teriam que mudar a época de chegada à colônia e o período de incubação dos ovos, em resposta às mudanças climáticas que tornam as estações mais quentes.

Caswell lembra que a extinção dos pinguins-imperadores não será é um efeito isolado do aquecimento global e trará consequências para todo o ambiente. “As mudanças climáticas não afetarão somente espécies, mas ecossistemas inteiros”, alerta. “Entender esses efeitos é um desafio prioritário para ecólogos de todo o mundo.”

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line