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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Aquecimento Global


Os dois países se recusam a apresentar metas de redução de emissões na COP-15, mas o Brasil já está articulando com outros países para fazer pressão e tentar que eles mudem de posição

Carlos Américo

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse, nesta segunda-feira (16/11), que ficou frustrado com a posição dos Estados Unidos e da China de não levar compromissos numéricos de redução de emissão na Convenção do Clima (COP-15), que acontece em dezembro, em Copenhague. Segundo Minc, o Brasil já está articulando com outros países para fazer pressão e tentar que esses países mudem de posição, e a COP-15 não seja um desastre. "A notícia foi uma ducha de água quente, elevando ainda mais a temperatura do planeta".

Durante a 4ª reunião Extraordinária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), em que foi apresentado o apoio à ação brasileira de definir o compromisso de redução de emissão, Minc destacou que a meta do Brasil é ousada. Ele argumentou que, no entanto, sem a participação dos dois países responsáveis por metade da emissão global, não haverá um acordo consistente. "Depois da lufada de oxigênio com as metas apresentadas pelo Brasil, agora foi um tiro no pé e outro no peito".

O governo brasileiro apresentou, na última sexta-feira (13/10), o compromisso de reduzir entre 36,1% e 39% as estimativas de emissões previstas para 2020. Minc espera que a população e a opinião pública dos Estados Unidos e da China pressionem os governos para mudarem de posição. "O relógio está andando e a temperatura aumentando. Acho que a população desses países deve se manifestar fortemente e não aceitar essa posição como inexorável", destacou o ministro.

O ministro ainda salientou que a lógica que funciona em uma negociação comercial, em que um produto pode ser substituído por outro, não terá sucesso no debate climático. "Se há problema com o algodão, por exemplo, pode procurar uma outra fibra. Já quando o debate é o clima, nós não temos um outro planeta", avaliou Minc. Para ele, os líderes mundiais não têm "o direito de frustrar a população do mundo".

Minc destacou para os conselheiros da CDES que o Brasil fez o dever de casa e tem um compromisso forte de ações de mitigação até 2020. Segundo ele, todos os estados, a exemplo de São Paulo, farão seus planos do clima, e comemorou que em ano pré-eleitoral o discurso é para quem é mais verde e não para quem desmata mais.

Fonte: MMA.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Temperatura global pode aumentar quatro graus


Uxbridge, Canadá – A perspectiva de aumento de quatro graus centígrados na temperatura média da Terra no prazo de 50 anos é alarmante, mas não alarmista, segundo cientistas especialistas em clima. Há apenas 18 meses, ninguém se atrevia a imaginar a humanidade elevando a temperatura em mais de dois graus centígrados, mas as crescentes emissões de carbono e a incapacidade política de acordar novas reduções levam a ciência a considerar o que antes era impensável.

“Os dois graus centígrados já ficaram para trás”, disse Chris West, do Programa Britânico de Impactos Climáticos da Universidade de Oxford. “Os quatro graus são, definitivamente, possíveis. Este é o maior desafio de nossa historia”, acrescentou. Um aumento dessa magnitude significaria um mundo em que a temperatura aumentaria dois graus em algumas regiões e 12, ou mais, em outras, que se tornariam inabitáveis, segundo estudos apresentados há duas semanas na Conferência Internacional de Ciência Climática “Quatro Graus e Mais além”, realizada em Oxford.

Seria um mundo em que o nível domar elevaria entre um e dois metros até 2100, o que deixaria sem lar centenas de milhões de pessoas, e 12 metros nos próximos séculos, na medida em que se dissolvessem a camada de gelo da Groenlândia e do oceano Antártico ocidental. Quatro graus de aquecimento aumentariam a temperatura da Terra a níveis nunca antes alcançados nos últimos 30 milhões de anos. E isso aconteceria entre 2060 e 2070. “A realidade política deve aferrar-se à realidade física ou será completamente inútil”, disse na conferência John Schellnhuber, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisas sobre Impacto Climático.

Schellnhuber informou a funcionários do governo norte-americano os quais o advertiram que suas conclusões “não estão baseadas na realidade política” e que “o Senado nunca concordaria” com elas. O especialista calcula que os Estados Unidos deveriam reduzir a zero suas emissões de carbono das atuais 20 toneladas por habitante até 2020 se o que se deseja é ter, ao menos, a oportunidade de estabilizar o aumento da temperatura em torno dos dois graus centígrados. Com esse mesmo objetivo, as emissões da China deveriam chegar a um teto até 2020 e, em seguida, cair para zero até 2035, acrescentou.

Os representantes governamentais que acordaram na cúpula do Grupo dos 20 (realizada no mês passado em Pittsburgh- EUA) uma meta de aumento de dois graus centígrados “enganaram a si mesmos sobre as reduções de emissões que desejam”, afirmou Schellnhuber. Mesmo se a temperatura aumentar somente dois graus, se perderá a maioria dos arrecifes de coral, vastas áreas oceânicas se converterão em zona morta, será dissolvida grande parte dos glaciais montanhosos e outros ecossistemas estarão sob grave risco, acrescentou o especialista.

A Terra esquentou 0,74 graus centígrados no século passado, e a temperatura sobe atualmente a uma média de 0,16 graus, segundo informou em 2007 o Grupo Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC). Manter a tendência, depois de as emissões de 2008 situarem-se no pior dos cenários previstos, a temperatura média aumentaria entre quatro e 5,6 graus até 2090, disse, por sua vez, Richard Betts, da equipe pesquisadora sobre mudança climática do Centro Met Office Hadley, de Londres.

O Brasil, boa parte do Canadá, vastas áreas dos Estados Unidos, Libéria e Europa central estarão oito graus mais quentes do que nos últimos 50 anos. Também se prevê aumento das chuvas no hemisfério norte, enquanto os trópicos serão 20% mais secos, segundo os modelos computadorizados, baseados apenas nas emissões de origem humana, sem incluir a retroalimentação do fenômeno pelo derretimento de gelos ou mudanças nos seqüestradores de carbono.

Quando esses fatores são incluídos, o aumento de quatro graus na temperatura até 2060 “é um cenário plausível de pior expressão. Até 2100, o aumento poderia ser de 5,5 graus. Em poucas regiões haveria elevação de temperatura equivalente à média mundial, alertou Betts. No Ártico esquentaria 15 graus, e muitas outras áreas aumentariam 10 graus. E isso sem incluir nos modelos informatizados a liberação de 1,5 bilhão de carbono pelo derretimento dos gelos permanentes do norte ou de hidratos de carbono submarinos.

Entre um bilhão e dois bilhões de pessoas ficarão sem acesso à água doce devido à mudança nos padrões de chuva, disse Nigel Arnell, diretor do Instituto Walter para Pesquisa de Sistemas Climáticos, da Universidade de Reading (Grã-Bretanha). Até 15% das terras férteis do mundo e 40% das africanas, ficarão muito secas ou muito quentes para produzir alimentos. E haverá temperaturas benéficas para a agricultura em áreas como Canadá e Rússia, mas, geralmente, onde os solos não são adequados, acrescentou Betts. Tolerar um aumento de quatro graus centígrados na temperatura média da Terra “é inaceitável”, devido aos alarmantes impactos, alertou Chris West.

A Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática que acontecerá em dezembro em Copenhague precisa aceitar que as emissões de carbono devem, finalmente, acabar por completo, pois não existe um nível de emissões sustentável, concluiu Myles Allen, do grupo de Dinâmica Climática da Universidade de Oxford.





Fonte: Envolverde / IPS.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Línguas ameaçadas



Linguista discute risco de extinção de vários idiomas falados por grupos indígenas brasileiros

Um levantamento recente feito por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi mostra que 154 línguas são faladas no Brasil por diferentes etnias indígenas e que 21% desses idiomas estão ameaçados de extinção. Para falar sobre essa questão, o Estúdio CH desta semana recebe a linguista Ana Vilacy Galucio, uma das integrantes da equipe que conduziu o estudo.


Em entrevista a Mariana Ferraz, a pesquisadora explica que uma língua é considerada ameaçada de extinção se é falada por poucas pessoas e não é mais ensinada às próximas gerações. No Brasil, as línguas indígenas têm poucos falantes – em alguns casos, apenas dois – e o risco de elas desaparecerem é ainda maior porque são transmitidas somente por tradição oral.


Galucio ressalta que o desaparecimento de uma língua afeta uma variedade de elementos culturais que são transmitidos por meio dela – como conhecimentos, pensamentos e a literatura. Além disso, a própria relação da língua com a identidade do povo é afetada.


A linguista aponta algumas causas para o desaparecimento das línguas indígenas no Brasil, como o surgimento de doenças que diminuíram muito as populações e a realização de casamentos entre membros de grupos diferentes. Mais recentemente, a pressão socioeconômica que leva jovens e crianças a saírem das aldeias para estudar e trabalhar nas cidades e fazendas próximas tem contribuído para o desinteresse dessas gerações em aprender sua língua materna.

Mas a pesquisadora acredita que, no atual momento social e político, o país caminha rumo a uma nova valorização da cultura, da tradição e da identidade indígenas, o que pode levar à recuperação de algumas línguas. Ela destaca a importância do registro dos idiomas ainda em uso e da postura ativa da comunidade científica para promover medidas que possam afastar as línguas indígenas da extinção.



A Redação

Ciência Hoje On-line

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Preparo certo

Pesquisadores criam tabela de informação nutricional que considera modo de preparação do alimento

As tabelas de informação nutricional de alimentos servem de guia para que os médicos e nutricionistas desenvolvam dietas para os pacientes. No entanto, a maioria das tabelas não leva em conta um aspecto muito importante: a forma de preparo da comida. Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) acaba de desenvolver uma nova tabela nutricional considerando este fator, ausente nas outras tabelas utilizadas no Brasil. O cardiologista Carlos Scherr, que realizou o estudo durante seu doutorado na UFRGS, afirma que um frango grelhado sem pele, por exemplo, tem 50% menos gordura do que um frango frito com pele. Algumas das tabelas de composição de alimentos mais utilizadas trazem somente os valores do frango cru.
Durante o estudo, foi avaliada a composição química de 75 produtos, considerando várias formas de preparo, no Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), em Campinas, São Paulo. Foram utilizados somente produtos nacionais para evitar equívocos encontrados em outras tabelas adotadas no Brasil, baseadas em tabelas americanas, onde, entre outros itens, o gado é diferente.
Diversas formas de preparo dos alimentos foram comparadas. “Nossa preocupação foi avaliar a comida exatamente como vai à mesa”, explica Scherr. Os resultados derrubam alguns mitos, como o de que o pernil seria um vilão a ser sempre evitado por seu alto teor de gordura. “Quando se retira a gordura aparente e depois se prepara o pernil grelhado, ele tem menos gordura do que um contra-filé, qualquer que seja a forma como este é preparado”, revela.
Scherr ressalta que as dietas não precisam ser restritivas, já que assim é maior a chance de as pessoas as abandonarem e adotarem estilos de alimentação que aumentam o risco de ocorrência de doenças cardiovasculares. “Todos os alimentos podem ser consumidos, desde que seja utilizada prioritariamente sua forma de preparo mais saudável”, lembra. O cardiologista pretende dar continuidade à pesquisa e comparar as formas de preparo de outros pratos do dia-a-dia, como a feijoada.
Scherr afirma que a população ainda tem pouca informação sobre os alimentos. Produtos anunciados como ‘sem colesterol’ podem ser muito prejudiciais à saúde por conterem gordura saturada. “Ao entrar no organismo, a gordura saturada gera o triplo de colesterol da sua quantidade inicial”, explica. “Outro erro comum é preparar a carne com a gordura aparente e depois retirá-la. Durante o preparo, essa gordura é absorvida pela carne, então ela deve ser retirada antes”, completa.
Tatiane Leal Ciência Hoje/RJ

domingo, 12 de julho de 2009

Meio crocodilo, meio tatu




Fóssil de réptil paulista tem características únicas e revisa conhecimento sobre clima pré-histórico
Crocodilo-tatu. Esse nome, que parece saído de um conto de fadas, é a denominação do novo réptil pré-histórico brasileiro, o Armadillosuchus arrudai. O animal pertence ao grupo dos crocodilomorfos, parentes dos crocodilos atuais, mas apresenta características nunca antes encontradas nesses espécimes, como uma couraça similar à do tatu e a capacidade de mastigar alimentos, o que sugere uma versão diferente para o clima no fim do Cretáceo, há 90 milhões de anos, quando ele viveu. Descrito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a partir de fósseis (cabeça, couraça e pata) encontrados em 2005 pelo professor do Ensino Médio João Tadeu Arruda no município de General Salgado (SP), o crocodilo-tatu foi apresentado ao público hoje na abertura da exposição Visões da Terra, no Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O artigo que descreve o animal foi publicado na revista científica Journal of South American Earth Sciences. Com cerca de dois metros de comprimento e aproximadamente 120 kg, o A. arrudai apresentava características que lhe conferiam proteção contra os predadores e o ambiente hostil. “Outro crocodilomorfo que vivia nessa área e período era o Baurusuchus salgadoensis, que possivelmente tinha o crocodilo-tatu como presa”, conta um dos autores do artigo, o geólogo Ismar de Souza Carvalho, do Laboratório de Macrofósseis da UFRJ. A couraça do A. arrudai serviria como proteção contra ataques, mas também ajudaria o animal a não perder umidade. “O clima na bacia de Bauru, onde ele vivia, era quente e árido, com rios temporários que enchiam com chuvas torrenciais e esporádicas”, revela o geólogo. As garras do crocodilo-tatu eram especializadas para cavar, o que lhe permitia se enterrar para evitar os predadores e se proteger das condições ambientais.



O novo crocodilomorfo também tinha dentes fortes e de textura áspera, com disposição similar à dos mamíferos. Segundo os pesquisadores, há ainda evidências de que o A. arrudai tinha capacidade de mastigar, algo desconhecido nos crocodilos atuais. “Tudo isso indica que a sua dieta era bastante variada, incluindo, além de carne, vegetais, raízes de árvores e moluscos”, informa Carvalho. O geólogo destaca que as adaptações desse réptil a um ambiente árido revelam que as condições no interior do continente permaneciam extremas no fim do Cretáceo. “Nessa época, ocorreu o início da formação do Atlântico e acreditava-se que as temperaturas teriam se tornado mais amenas em todo o continente. Mas o A. arrudai mostra que essa suavização climática parece ter se concentrado na costa.” Para Carvalho, a descoberta evidencia a diversidade da vida pré-histórica brasileira e permite compreender as transformações dos espaços ecológicos no decorrer do tempo geológico. “O Armadillosuchus arrudai viveu por 10 milhões de anos, tendo sido extinto há 80 milhões de anos, provavelmente devido às mudanças climáticas daquele período”, completa.

Fred Furtado
Especial para a CH On-line
07/07/2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

Plantas transgênicas na prevenção da Aids


Espécie infectada por vírus modificado produz proteína capaz de impedir entrada do HIV nas células


Um novo método permitirá a produção em larga escala de uma substância que poderá ser usada no desenvolvimento de um gel barato e eficaz para evitar a transmissão da Aids pelo contato sexual. Pesquisadores dos Estados Unidos e da Inglaterra usaram uma planta contaminada por um vírus geneticamente modificado para sintetizar uma proteína que impede a infecção das células pelo HIV.


Existem muitas substâncias obtidas por meio de engenharia genética que inibem a entrada do HIV nas células. Um dos mais potentes inibidores é a proteína griffithsina, isolada da alga vermelha Griffithsia. Mas o uso dessa substância como microbicida esbarrava na dificuldade e no alto custo de sua produção em laboratório, feita por meio de microrganismos.


Agora uma equipe liderada por Kenneth Palmer, da Escola de Medicina da Universidade de Louisville (Estados Unidos), usou a planta Nicotiana benthamiana, um parente próximo do tabaco, para sintetizar uma proteína idêntica à griffithsina. O grupo modificou o vírus mosaico do tabaco com um gene da proteína e infectou 9.300 plantas cultivadas em uma estufa de 464,5 m 2 .


As plantas modificadas acumulam em um quilo de suas folhas mais de um grama de proteína recombinante, o que permitiu aos pesquisadores extrair mais de 60 gramas da substância. Essa taxa de expressão da proteína é significativamente mais alta do que a obtida por meio de microrganismos ou do que os níveis de outras proteínas anti-HIV produzidas a partir de plantas.


“Essa taxa é suficiente para a produção de microbicidas em larga escala e a baixo custo”, diz Palmer à CH On-line. E acrescenta: “Achamos que será possível produzir cada dose da proteína por centavos, talvez o mesmo custo de uma camisinha masculina.”


Inibidor amplo e potente


Em testes feitos em coelhos e amostras de tecido cervical humano, os pesquisadores comprovaram a atividade da proteína produzida pela N. benthamiana contra vários subtipos do vírus HIV-1. “A molécula talvez seja o mais potente inibidor da entrada do HIV já descrito e é específica para esse patógeno”, destaca Palmer.


Para evitar a transmissão do HIV, a proteína se liga a moléculas de açúcar que o vírus usa para se disfarçar do sistema imune. Dessa forma, ela impede a interação do HIV com as moléculas CD4 (presentes na superfície de alguns linfócitos) e com receptores que permitem a entrada do vírus nas células humanas. A inativação do HIV ocorre quase imediatamente após seu contato com a proteína.


Segundo Palmer, a griffithsina produzida pela N. benthamiana tem atividade de amplo espectro contra os subtipos A, B e C do HIV. “Isso indica que ela deve funcionar contra vírus presentes nas principais áreas do mundo”, afirma.


Os resultados da pesquisa, publicados na revista PNAS desta semana, também mostraram que a proteína recombinante é estável em diversas condições físicas e não causa irritação ou inflamação. Além disso, diferentemente de outras proteínas extraídas de plantas, ela não induz a ativação e divisão de linfócitos humanos, o que poderia aumentar o risco de entrada do HIV – em vez de prevenir sua transmissão –, já que os linfócitos são os alvos do vírus.

A griffithsina tem ainda a vantagem de não ser usada atualmente como droga antirretroviral. Isso diminui a chance de que ela promova a resistência do vírus e permite seu uso contra infecções resistentes a múltiplas drogas.


O grupo agora vai identificar uma formulação adequada para o emprego da proteína como microbicida. “Estamos investigando formas de dosagem sólidas, pois acreditamos que serão mais populares entre as mulheres”, diz Palmer. Segundo o pesquisador, os testes clínicos devem começar nos próximos dois anos e, depois disso, ainda deve levar pelo menos cinco anos até que o microbicida esteja pronto para comercialização.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Qual a temperatura do feto dentro do útero materno? O que pode ocorrer se essa temperatura for alterada?


Pergunta de Elaine Pedrosa, por correio eletrônico.


A temperatura corporal humana média é de 37°C, e a do feto humano é superior à materna de 0,3 a 0,5°C. O aquecimento acima dessa temperatura pode perturbar o processo fisiológico normal do feto, causando, por exemplo, alteração de reações metabólicas ou da migração neuronal ou mesmo morte celular. As consequências são mais graves se essa mudança acontecer no primeiro e no início do segundo trimestres da gestação, quando se dá a organogênese, período em que ocorrem divisões e especializações celulares.

A elevação natural da temperatura do corpo da mãe é utilizada, em pesquisas, para estimar os riscos ao embrião causados pela elevação da temperatura fetal. Embora o risco seja muito pequeno no caso de elevações mínimas de sua temperatura, nunca é igual a zero. A elevação estimada de 1°C acima da temperatura basal fetal durante cinco minutos tem risco de aproximadamente 0,004% para anomalias discretas e de aproximadamente 0,048% para anomalias maiores.

Estudos que avaliaram os efeitos da temperatura materna acima de 38,3°C, por pelo menos 24 horas, no primeiro e início do segundo trimestres (período em que se dá a proliferação e a migração neuronal), demonstram maior risco para anencefalia (ausência total ou parcial da abóbada craniana), microcefalia (menor crescimento cerebral) e deficiência mental.

Maria de Lourdes Brizot
Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo

MAIS QUE DIÁRIOS VIRTUAIS


Blogs podem melhorar o desempenho escolar e estimular a interdisciplinaridade, aponta estudo.

Os blogs podem ser uma excelente ferramenta para melhorar o desempenho dos alunos em sala de aula e estimular a interdisciplinaridade. O uso desses diários virtuais por estudantes do Ensino Médio de uma escola em Minas Gerais contribuiu para aumentar suas capacidades de discussão e escrita, entre outros benefícios.

Os resultados da experiência, feita pela professora de produção textual Cláudia Rodrigues, fazem parte de sua dissertação de mestrado, orientada pela linguista Denise Bértoli Braga e apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A ideia de Rodrigues surgiu a partir da percepção de que o potencial de ferramentas como a internet permanecia pouco explorado na escola. “Os alunos sabiam muito mais sobre recursos da internet do que nós, professores”, diz.

Depois de uma tentativa fracassada de criar um blog próprio no qual os alunos comentassem e discutissem os assuntos publicados, Rodrigues experimentou usar essa ferramenta de forma menos centralizada: os blogs seriam dos alunos, e não da professora. “Percebi que trabalhar com a internet focada no educador não funciona”, avalia.

Rede de debates
Rodrigues dividiu suas turmas em grupos, que deveriam criar um blog onde se discutissem os temas abordados em sala de aula. “Os alunos se identificaram com o ambiente dinâmico e informal, em que a discussão não era só com o professor”, explica. Por meio dos posts e dos comentários, os debates iniciados na escola continuavam, não só entre os alunos, mas também com pessoas de fora, como pais e outros amigos.

O fato de o blog ser um espaço público contribuiu para melhorar a escrita dos estudantes, que passaram a ler mais e se informar melhor antes de discutir um assunto. “Os debates ficaram mais embasados e os textos, mais bem elaborados”, conta Rodrigues.

A professora ressalta que os resultados mais inesperados e positivos da atividade foram a interdisciplinaridade e a intertextualidade das discussões. Segundo ela, os alunos começaram a confrontar os temas e pedir dicas e opiniões de professores de outras disciplinas, o que não era, a princípio, o objetivo da experiência.

Resistência das escolas
Embora o uso de blogs em atividades escolares tenha sido tão produtivo, Rodrigues ressalta que há uma resistência em relação ao emprego dessa ferramenta. Segundo ela, existe preconceito – principalmente em relação à linguagem da internet –, que seria causado pela falta de informação dos representantes das instituições de ensino. “As escolas geralmente acham que a internet serve apenas para o lazer do estudante e é onde ele aplica somente aquela linguagem abreviada e fora dos padrões da norma culta”, comenta.

Rodrigues defende a variedade linguística e não condena o uso dessa linguagem abreviada típica do meio virtual. Mas ela ressalta que em nenhum dos 20 blogs criados os alunos usaram o “internetês”, mesmo sem ter havido uma orientação específica sobre a linguagem a ser adotada. “O aluno entendeu que era um blog educacional e, por isso, a norma culta não foi suplantada pela linguagem da internet”, relata. “A linguagem culta já é estabelecida e reconhecida e isso foi percebido pelos próprios alunos.”

Para a professora, os resultados do estudo mostram que é preciso repensar o papel da internet na vida do estudante. “O blog deve ser uma ferramenta do aluno e do professor, e a internet pode ser útil para todas as disciplinas”, completa.


Isabela Fraga
Ciência Hoje On-line

Dieta contra o esquecimento



Corte no consumo de calorias melhora memória de idosos, comprova estudo alemão.

Se você, caro leitor, está fora de forma, saiba que este não é o único motivo para começar uma dieta. Um estudo alemão publicado na revista PNAS desta semana comprova que o corte no consumo de calorias é capaz de aumentar a memória de idosos, além de gerar significativa perda de peso e redução no índice de massa corporal.

A pesquisa confirma resultados de estudos anteriores feitos com ratos. Testes haviam mostrado que dietas pobres em calorias e ricas em ácidos graxos insaturados – como os encontrados no azeite de oliva e em peixes – ajudaram a melhorar o desempenho da memória dos animais no envelhecimento.

Para verificar se os mesmos efeitos ocorrem em humanos, pesquisadores da Universidade de Münster, na Alemanha, selecionaram 50 idosos saudáveis (21 homens e 29 mulheres), com idade média de cerca de 60 anos, alguns com peso normal e outros em excesso.

Os participantes foram divididos em três grupos. Para o primeiro, foi prescrita uma restrição no consumo de calorias de até 30%. O segundo foi submetido a um aumento no consumo de ácidos graxos insaturados de até 20%, sem que a ingestão de gorduras totais fosse alterada. O terceiro não sofreu alterações na dieta.

Antes das intervenções alimentares e três meses depois, os pesquisadores avaliaram a função cognitiva dos indivíduos. “Encontramos um aumento significativo dos registros de memória verbal após a restrição calórica”, relatam no artigo. Os outros dois grupos não mostraram mudanças significativas na memória.

Memória, insulina e inflamações
Segundo os pesquisadores, esse aumento no desempenho da memória está relacionado com uma redução da atividade inflamatória e quedas nos níveis de insulina e da proteína C-reativa – que foram mais pronunciadas em indivíduos com melhor adesão à dieta.

Os resultados apontam um caminho para a investigação do papel da insulina e de inflamações no declínio cognitivo relacionado ao envelhecimento. “Nosso estudo pode ajudar a gerar novas estratégias de prevenção para manter as funções cognitivas na velhice”, acreditam os pesquisadores.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line

MARCHA PARA A EXTINÇÃO


Pinguim-imperador corre o risco de não sobreviver aos efeitos do aquecimento global, alerta estudo

Os ursos-polares acabam de ganhar um companheiro na incômoda posição de espécie ameaçada de extinção pelo aquecimento global. A maior das espécies de pinguim desaparecerá até o fim deste século se os bancos de gelo do oceano Antártico, ambiente fundamental para sua reprodução, derreterem como preveem os modelos climáticos.

A conclusão é de uma pesquisa franco-americana que analisou dez modelos diferentes do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) com previsões para o clima deste século e para a extensão dos bancos de gelo na área habitada pelo pinguim-imperador. Os resultados do estudo foram publicados esta semana na revista PNAS.

Endêmico da região polar antártica, o pinguim-imperador (Aptenodytes forsteri) é bastante conhecido do público por estrelar filmes como A marcha dos pinguins e Happy feet. Agora, ele passa a integrar a lista da fauna carismática que deve pagar a conta pelo aumento da temperatura. A espécie mais conhecida desse grupo talvez seja o urso-polar, endêmico da região ártica, no outro polo do planeta.

Os cientistas que analisaram os modelos do IPCC mostraram que todos eles levam a uma altíssima probabilidade de extinção dos pinguins-imperadores: a expectativa é que a população reduza de 6 mil para 400 casais de pinguins até 2100, um declínio de 93%.

Os pinguins-imperadores dependem da fina camada de gelo que se forma sobre o oceano Antártico para se reproduzir e se alimentar. As colônias são formadas nesses bancos de gelo, para que os pinguins possam realizar viagens ao mar aberto em busca de alimentos durante o período de incubação dos ovos e de criação dos filhotes.

Adaptação é única saída
Os autores acreditam que a diminuição dessa cobertura de gelo prejudicará o processo reprodutivo e afetará a dinâmica da vida dessa espécie. A única saída para o pinguim-imperador seria uma adaptação rápida ao novo cenário climático, o que envolve alterações nos seus estágios de desenvolvimento.

“Essa adaptação seria difícil, porque o pinguim-imperador é uma espécie de vida relativamente longa, enquanto o clima está mudando muito rapidamente”, diz à CH On-line o biólogo Hal Caswell, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (Estados Unidos), um dos autores do artigo. Os pinguins provavelmente teriam que mudar a época de chegada à colônia e o período de incubação dos ovos, em resposta às mudanças climáticas que tornam as estações mais quentes.

Caswell lembra que a extinção dos pinguins-imperadores não será é um efeito isolado do aquecimento global e trará consequências para todo o ambiente. “As mudanças climáticas não afetarão somente espécies, mas ecossistemas inteiros”, alerta. “Entender esses efeitos é um desafio prioritário para ecólogos de todo o mundo.”

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Novas fontes que podem transformar o mundo



A maior parte das energias geradas no mundo vem dos combustíveis fósseis. Para serem transformados em energia, esses combustíveis são queimados, fator que o torna altamente poluente. A solução encontrada está na utilização de fontes renováveis de energia, obtidas de fontes naturais e que possuem a capacidade de se regenerar.

Essas fontes surgiram como alternativas viáveis para combater problemas relacionados à degradação ambiental e à escassez dos combustíveis fósseis. Estima-se que eles possam chegar ao fim em 40 anos, o que leva governos e sociedade a repensarem a necessidade de usufruir corretamente desse tipo de energia e optarem pelas fontes renováveis.

Os combustíveis fósseis são acumulações de seres vivos que viveram há milhões de anos e que foram fossilizados formando carvão ou hidrocarboneto. Eles podem ser utilizados em sua forma sólida, a exemplo do carvão, líquida como o petróleo ou gasosa através do gás natural.

De acordo com o geólogo e professor do Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia em Barreiras (Cefet – Barreiras), Robson Dantas, o combustível fóssil gera gases que contribuem com o aumento do aquecimento global, atualmente um grande problema para a humanidade, que causa modificações climáticas, que podem se tornar irreversíveis.

Opções - A energia dos ventos é amplamente disponível, possui baixo impacto ambiental e é limpa, pois não emite gás carbônico. No Nordeste o potencial de energia eólica está estimado em seis mil MW. Outros exemplos de energias renováveis são a solar (através de placas solares), biomassa (produzido com bagaço de cana, casca de arroz, cavaco de madeira e lixo) e maré-motriz (força da maré), todas consideradas ambientalmente corretas.

Segundo Robson Dantas, um dos fatores que levam à não utilização dessas energias está relacionado ao elevado custo de instalação. “Para recompensar o investimento nestas fontes, os custos de manutenção são pequenos, além do baixo nível de poluição”, afirma.

Também existem os biocombustíveis obtidos através da soja, mamona e girassol. O geólogo afirma que é preciso ter cuidado, pois o cerrado está sendo degradado em detrimento da expansão agrícola. “Neste caso é necessário o monitoramento para que essa fonte de energia renovável não se torne um problema, mas sim uma alternativa”, avalia.

No Brasil 90% da energia elétrica é gerada em usinas hidrelétricas. Elas provocam grande impacto ambiental como o alagamento de áreas, a perda da biodiversidade, a remoção de famílias, a morte de tradições e costumes. A utilização das fontes alternativas é a única saída para a resolução desses problemas. Para Robson Dantas, quando se fala em energia alternativa é preciso conciliar algo que é muito difícil desenvolvimento econômico com desenvolvimento sustentável. “Talvez essa seja o maior desafio da humanidade”. (Jackeline Bispo/Ascom Instituto Bioeste)

O Estado de São Paulo
Emissão de gás carbônico no País vai triplicar até 2017

Se por um lado a área ambiental do governo firma compromissos para reduzir as emissões de gás carbônico por meio da queda do desmatamento, do outro o planejamento do setor elétrico prevê mais geração termoelétrica, considerada uma energia mais poluente. Análises de técnicos do próprio governo indicam que as emissões de CO2 dessas novas usinas saltarão dos atuais 14 milhões de toneladas para 39 milhões em 2017.

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, senadora pelo PT do Acre, está preocupada com as projeções do governo de aumentar a produção de energia em usinas termoelétricas, principalmente as movidas a óleo combustível. “Estamos na contramão da Europa e do que deverá acontecer nos Estados Unidos com a posse do Barack Obama”, disse.

A nova versão do Plano Decenal de Expansão da Energia, que traça as metas para o setor de 2008-2017, projeta que a capacidade de geração do País terá de saltar dos atuais 99,7 mil megawatts (MW) para 154,7 mil MW.

Desse acréscimo, cerca de 20,8 mil MW deverão ser gerados em usinas termoelétricas de diversos tipos, como nuclear, a gás, carvão, diesel, óleo combustível ou biomassa. A previsão do governo para a produção de energia em usinas movidas a óleo combustível - mais caras e poluentes - é de cerca de 40 novas térmicas até 2017.

Visita ao recife de coral


À primeira vista, eles parecem pedras, mas são... Animais!

Você assistiu ao filme Procurando Nemo ? Já ouviu falar nele? Esse desenho animado conta a história de um peixe-palhaço que vivia no oceano, mas foi capturado por mergulhadores, o que levou seu pai a sair à sua procura. O filme mostra que Nemo acabou sendo levado para um aquário, um lugar bem menos atrativo do que o seu antigo lar: um recife de coral, onde o peixe-palhaço vivia na companhia de muitos animais marinhos. Como no desenho, os recifes de coral estão presentes nos oceanos e são habitados por peixes multicoloridos, além de vários outros animais. Então, vamos saber mais sobre os recifes?

À primeira vista, os recifes de coral podem parecer pedras, com plantas presas à sua superfície, que servem de abrigo para um monte de bichos do mar. Mas, na verdade, os recifes de coral são formados por... Animais!

Pois é. Assim como as águas-vivas e as anêmonas, o que nós costumamos chamar de coral é um tipo de animal marinho conhecido como cnidário. Os cnidários apresentam tentáculos com estruturas que os auxiliam a se alimentar, pois contêm substâncias tóxicas capazes de paralisar as suas presas.

Os recifes de coral, como o próprio nome indica, são grandes colônias formadas pelos animais marinhos conhecidos como corais. Nem todo coral, porém, é capaz de formar recifes: somente os que apresentam algas microscópicas chamadas zooxantelas, que têm um papel fundamental na sua sobrevivência. Quando um recife de coral é formado, no entanto, algas e animais marinhos só têm a comemorar. Afinal, encontram ali moradia e abrigo.

Aqui há recifes!

Os recifes de coral se desenvolvem exclusivamente nas áreas do oceano que estão entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, onde a temperatura é de 20 a 28 graus. Para a formação dos recifes, as águas devem ser claras e rasas, pois alguns corais alimentam-se de um modo bastante particular.

Embora muitos corais sejam carnívoros – isto é, se alimentem de outros animais –, o que eles conseguem capturar para comer não é suficiente para garantir a sua sobrevivência. Então, muitos tipos de corais dependem de uma interação com as zooxantelas, as algas microscópicas que vivem junto a eles. Essas microalgas retiram o gás carbônico da água e produzem alimento para os corais por meio da fotossíntese: o processo que permite às plantas produzir o seu próprio alimento pelo uso da energia solar e do gás carbônico. Em troca, os corais oferecem abrigo, proteção e alguns nutrientes que a água do mar não pode oferecer. Uma parceria perfeita que só pode acontecer com eficiência se o recife de coral se formar em águas claras e rasas, garantindo, assim, às microalgas o acesso à luz, um requisito fundamental para que ocorra a fotossíntese.

Mas por que os recifes de coral, apesar de serem formados por animais, parecem tanto com pedras? Isso acontece porque, ao longo da sua vida, cada indivíduo do coral capta compostos presentes na água – como gás carbônico e cálcio – e libera uma substância chamada carbonato de cálcio, que vai dando origem a uma estrutura que fica com a aparência semelhante à de uma rocha. Essa estrutura forma o que poderíamos chamar de esqueleto do coral, por dar sustentação a ele. Quando o coral morre, essa estrutura permanece no local. Sobre ela, crescem novos corais, que produzem mais carbonato de cálcio, aumentando, assim, gradativamente, o tamanho dos recifes.

Ana Caroline Paiva Gandara
Instituto de Bioquímica Médica, e
Iana Barbosa Rodrigues
Instituto de Biologia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Caqui, um aliado da saúde


Fruta impede acúmulo de radicais livres no organismo e previne doenças e envelhecimento precoce

O caqui é o mais novo aliado dos médicos na luta contra o acúmulo de radicais livres no organismo, que contribuem para o envelhecimento celular precoce e o surgimento de doenças neurodegenerativas, como o mal de Alzheimer, além de diabetes e câncer. Estudo feito na Universidade de Brasília (UnB) comprovou que o caqui (Diospyros kaki) do tipo rama forte tem ação antioxidante, ou seja, reduz ou previne a oxidação, impedindo que radicais livres danifiquem células e tecidos do corpo.

Os efeitos do extrato da polpa de caqui foram comprovados em testes in vitro realizados pela nutricionista Luana Taquette Dalvi, do Departamento de Nutrição da UnB. A pesquisadora destaca que a fruta é rica em carotenoides como o betacaroteno (substância também presente em cenouras e abóboras), além de ser fonte de vitamina C. A presença desses compostos, entre outros, explicaria a ação antioxidante do caqui.

Para observar a ação do caqui sobre os radicais livres no organismo, a nutricionista realizou testes com células de fígado de rato adicionadas a um sistema que estimula a produção do radical hidroxil (composto por oxigênio e hidrogênio). “Esse radical reage rapidamente com as diversas moléculas do organismo, como proteínas, lipídios, carboidrato e o DNA”, ressalta Dalvi. O efeito do extrato de caqui foi muito positivo: inibiu em até 90% o dano oxidativo causado pelos radicais livres.

Mas a nutricionista alerta que o consumo de caqui deve ser controlado, pois a fruta tem alta concentração de açúcar e frutose, que representam até 60% de seu peso. “O ideal é ingerir grande variedade de frutas e, se possível, consumir um caqui por dia”, recomenda. Apesar de ter origem oriental, o caqui é cultivado em todo o Brasil.

Antioxidante campeão

Segundo Dalvi, o caqui pode ser considerado um alimento com alto teor de substâncias que combatem os radicais livres. Mas ainda serão necessários outros estudos para classificar a fruta como alimento funcional, que, além de fornecer energia para o organismo, previne contra doenças.

Atualmente a lista de alimentos funcionais inclui inúmeras frutas e legumes, como ameixa, morango, manga, uva, beterraba e pimentão, além da soja e do chá verde. Dalvi destaca a presença de compostos fenólicos (denominados polifenóis) no mecanismo responsável pela ação protetora desses alimentos. Quando consumidos, esses compostos ativam no organismo efeitos anticancerígenos, anti-inflamatórios e antioxidantes.

Para prevenir doenças, a nutricionista aconselha também o consumo de alimentos ricos em carotenoides e vitaminas A, C e E. “Além de uma alimentação equilibrada, é importante evitar hábitos que provoquem aumento de radicais livres no organismo, como fumo, exposição excessiva a radiação ultravioleta (UV) e uso de drogas”, completa.

Juliana Marques
Ciência Hoje On-line
06/01/2009

Radiação ultravioleta afeta camarões


Pesquisadores brasileiros encontraram problemas visuais e alterações celulares nos crustáceos

Uma pesquisa brasileira acaba de apontar mais um impacto negativo da destruição da camada de ozônio: a radiação ultravioleta que passa hoje pelos buracos dessa camada afeta embriões de camarões de água doce. Os animais podem nascer com alterações celulares e na forma e pigmentação dos olhos, o que reduziria suas chances de atingir a vida adulta.

A pesquisa, que faz parte do doutorado da bióloga Evelise Nazari no Programa de Pós-graduação em Ciências Morfológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analisou amostras de ovos de camarões obtidas em aquário e submetidas a radiação ultravioleta B (UVB) em laboratório durante quatro dias. A quantidade de radiação utilizada foi semelhante à que incide hoje sobre o estado de Santa Catarina, onde foram coletados os camarões adultos que puseram os ovos.

Além disso, os pesquisadores simularam as demais condições ambientais da região, baseados nas médias dos meses de verão, época do ano que coincide com o período reprodutivo desses crustáceos.

Após o experimento, foram observadas diversas alterações nesses embriões, como no formato dos olhos, que chegaram a não se formar em alguns casos. Além disso, a coloração dos olhos ficou mais clara. Os embriões apresentaram ainda problemas no desenvolvimento dos apêndices corporais, estruturas responsáveis pela locomoção: alguns cresceram demais e outros, muito pouco.

No ambiente, foram encontrados embriões com alterações na pigmentação dos olhos semelhantes às observadas no laboratório. Segundo Nazari, isso sugere que a incidência de radiação pode já estar interferindo nos ecossistemas.

“Esses embriões irão se desenvolver em larvas que possivelmente terão poucas condições de natação e captura de alimentos”, afirma a pesquisadora. “As chances de sobrevivência desses animais são bastante reduzidas.”

Alterações celulares

Os pesquisadores também verificaram alterações nas células dos embriões, principalmente no índice de proliferação celular e na taxa de apoptose (morte programada das células).

Para a orientadora da pesquisa, a bióloga Silvana Allodi, da UFRJ, o aumento da ocorrência de apoptose nas células pode significar um mecanismo de defesa contra a agressão sofrida pela radiação. “Com a morte programada, algumas células são eliminadas para que o tecido como um todo sobreviva”, explica.

O estudo de Nazari é parte de uma ampla pesquisa que avalia os efeitos da radiação ultravioleta e do bisfenol A (composto químico presente em objetos como garrafas PET e latas de conserva) em crustáceos. O trabalho é desenvolvido por pesquisadores da UFRJ, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

As biólogas ressaltam que os crustáceos funcionam como monitores da qualidade dos diferentes ambientes em que vivem. Além disso, a diminuição do número desses animais pode causar diversos problemas ao ecossistema. “Os camarões de água doce, por exemplo, se alimentam de restos animais ou vegetais e são alimento para peixes e aves”, lembra Nazari. “Se houver redução dessa população, a repercussão ecológica será significativa”, alerta.

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
07/01/2009




Nova hipótese de ocupação das Américas


Dados genéticos indicam que primeiros habitantes do continente seguiram duas rotas de migração

A ocupação do continente americano ocorreu por meio de duas rotas de migração distintas, ao contrário do que se acreditava. Novas evidências genéticas indicam que pelo menos dois grupos separados chegaram às Américas quase ao mesmo tempo e seguiram caminhos diferentes: um pela costa do oceano Pacífico rumo ao sul e outro pelo interior em direção ao leste da América do Norte.

Os primeiros americanos chegaram ao continente pelo estreito de Bering (porção de terra que conectou o nordeste da Sibéria ao Alasca durante a última idade do gelo) entre 15 mil e 17 mil anos atrás. Estudos recentes baseados em registros arqueológicos e ambientais sugeriam que eles migraram para o sul pelo litoral do oceano Pacífico. Esse povo teria originado quase todos os grupos de americanos nativos modernos das Américas do Norte, Central e do Sul.

A hipótese de que os primeiros habitantes das Américas tiveram uma origem dupla baseia-se na análise de duas raras e pouco estudadas linhagens de DNA mitocondrial existentes entre os americanos nativos modernos: D4h3 e X2a. O DNA mitocondrial, transmitido diretamente de mãe para filho, permite verificar se um grupo compartilha um ancestral materno comum.

A equipe internacional que conduziu a pesquisa, liderada por Antonio Torroni, da Universidade de Pavia (Itália), analisou pela primeira vez o DNA mitocondrial completo dessas duas linhagens.

Os resultados mostram que, nos estágios iniciais da colonização das Américas, a linhagem D4h3 se espalhou do estreito de Bering em direção à América do Sul pela costa do oceano Pacífico, alcançando rapidamente a Terra do Fogo. Essa rota teria provavelmente desempenhado o papel principal no povoamento do continente.

Rota alternativa

Já a linhagem X2a permaneceu restrita à América do Norte, exercendo impacto significativo na ocupação dessa parte do continente. Esse grupo seguiu um corredor terrestre aberto entre duas placas de gelo que levava diretamente para o leste das montanhas rochosas e povoou as regiões dos grandes lagos e grandes planícies. A existência desse corredor terrestre é compatível com dados paleoecológicos e ambientais.

“A dupla origem dos primeiros americanos é uma novidade surpreendente do ponto de vista genético”, dizem os pesquisadores no artigo que descreve o estudo, publicado esta semana na revista Current Biology. “As migrações iniciais do Pleistoceno em direção às Américas podem ter ocorrido em uma estreita janela de tempo de não mais que 2 mil anos, com uma sucessão de movimentos temporariamente distintos ao longo da rota costeira e do corredor sem gelo.”

Essas evidências genéticas fornecem novos elementos ao debate sobre as razões da grande diversidade cultural e linguística observada entre os americanos nativos. Os modelos tradicionais defendem que os primeiros grupos de humanos a colonizar as Américas vieram de uma única população, o que implicaria a existência inicial de apenas uma família linguística e um tipo de tecnologia e cultura.

Para Torroni, muito provavelmente mais de uma língua era usada entre os americanos nativos. Além disso, as diferentes tecnologias observadas em sítios arqueológicos da América do Norte poderiam estar relacionadas a grupos genéticos separados que usaram rotas migratórias distintas, em vez de serem resultado de diferenciação local. “Nosso estudo não encerra o debate, mas as implicações dos nossos resultados são significativas.”

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
08/01/2009