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domingo, 31 de agosto de 2008

GOTA ECOLÓGICA


Por Antonio Carlos Correia Fraga

E assim ia a vida
Repleta de afetos, sorrisos, descobertas...
Seres em paz, uma grande harmonia.
Algo muito louco, chamado ecologia...

Quando um dia tristonho,
O fruto da gota tornou-se homem.
E este homem tornou-se um industrial
Fascinado pela falsa alegria
E o poder emanado do seu capital...

Capital sem escrúpulos que feriu, sujou e poluiu.
Matou e desmatou, arrasou e construiu...
Construiu uma enorme represa
Acabando com o curso d’um rio exterior
E a esperança daquela que corria em suas veias
E que trazia consigo o verde das matas,
O brilho do céu, o canto das aves, as abelhas, o mel...

Então o mais belo dos rios secou
E de sua fonte só sobrou a lembrança do dia em que ela nasceu, pois como tudo: um dia morreu...

Quanto ao homem, aquele ser tão covarde,
Provável que ainda possua a gota
Que um dia chamou-se amor...
Só que o tempo e a solidão
Deram-lhe o triste nome de lagrima.








sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sinais preocupantes


Por Marina Silva

O movimento ambientalista conquistou respeito e apoio por defender as imensas riquezas naturais do Brasil e questionar o crescimento a qualquer custo. Hoje, com a sociedade mais atenta, e disso tive prova durante os anos em que estive à frente do Ministério do Meio Ambiente, temos uma poderosa união de esforços que dá base política para reposicionar o modelo predatório de uso de nossos ativos ambientais.
Essa base deu suporte ao governo do presidente Lula para adotar medidas contundentes de freio ao desmatamento na Amazônia. Decreto de dezembro de 2007 determinou a regularização fundiária nos 36 municípios de maior desmatamento, a responsabilização das cadeias produtivas e o agravamento das sanções em caso de descumprimento de embargo. Em janeiro, foi anunciada a operação Arco de Fogo, da Polícia Federal e do Ibama. Em fevereiro o Conselho Monetário Nacional editou resolução que condiciona o crédito rural na Amazônia à regularidade fundiária e ambiental da propriedade. Essa resolução entrou em vigor em 1º de julho e certamente contribuiu decisivamente para os primeiros resultados positivos, ainda que parciais, desse esforço.
No entanto, ao mesmo tempo, surgem sinais preocupantes de mudança na postura do governo. Primeiro, a edição da Medida Provisória 422, que estimula a grilagem de florestas públicas na Amazônia; depois, o veto presidencial ao único dispositivo que disciplinava minimamente a aplicação da MP. Recentemente, o governo anunciou acordo que, na prática, reduz a reserva legal na Amazônia para 50% e permite o plantio de espécies exóticas. Anunciou também a redução do ritmo de criação de unidades de conservação e promete alterar o decreto recém-publicado que regulamentou a Lei de Crimes Ambientais.
Há 15 dias, manifestei meu estranhamento com declarações do ministro Mangabeira Unger, de que a legislação ambiental brasileira não fora construída "para valer". Estava em dúvida se o ministro expressava alguma nova visão do governo federal sobre política ambiental. Os sinais aqui relatados reduzem o espaço da dúvida.
Para a sociedade brasileira, que avalizou as corajosas medidas de combate ao desmatamento e recebeu de forma entusiasmada a declaração do presidente de que não haveria retrocesso na política ambiental, será difícil aceitar mudanças na contramão do que foi dito há apenas três meses. Caso o compromisso assumido pelo presidente simplesmente tenha sido sido ignorado pelos ministérios que deveriam zelar por ele, resta a esperança de urgente correção de rumos.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Água pode ser o motivo de uma próxima crise mundial


25/8/2008

Paula Scheidt

Se hoje os altos preços do barril de petróleo e dos alimentos andam dando dor de cabeça para muita gente, em breve a preocupação deverá ser com o custo da água. Com o crescimento populacional e a falta de condições sanitárias adequadas principalmente nos países em desenvolvimento, uma Crise Mundial da Água pode estar eminente, segundo alguns especialistas e, um mercado mundial de água potável já é visto como um caminho para minimizar as perdas.
"Por trás da crise alimentar está uma crise global por água potável, com expectativas de se tornar ainda pior com a intensificação dos impactos das mudanças climáticas", disse o diretor geral da WWF, James Leape, que falará nesta terça-feira (19) na Semana Mundial da Água, evento que reúne, em Estocolmo, 2,5 mil especialistas em água de todo o mundo.
Cerca de 1,4 bilhões de pessoas vivem hoje em áreas que dependem de bacias hidrográficas que estão secando e outros um bilhão de indivíduos já sofrem com a falta de água potável para beber, o que diminui a expectativa de vida ou causa problemas de desenvolvimento imprevisíveis.
O evento foi aberto oficialmente nesta segunda-feira (18), com o pronunciamento do professor britânico Anthony John Allan, que recebeu o Prêmio da Água de Estocolmo 2008.
Durante estudos sobre a falta de água no Oriente Médio, o professor Allan, da Universidade King's College de Londres (UK), desenvolveu o conceito "água virtual", que seria o volume de água potável usada para produzir um produto, medida no lugar onde o produto foi realmente fabricado. Através desta concepção, o problema da água passa para o campo político e pode cair no comércio internacional.
Allan sugere a utilização da importação virtual da água, através dos produtos e alimentos, como uma alternativa de "fonte" de água potável para reduzir a pressão sobre bacias hidrográficas disponíveis em países que já lidam com a escassez.
Na palestra "Conhecendo a água e entendendo porque nós a usamos e consumimos deste modo”, proferida ontem, o professor Allan alertou para os padrões de consumo de água dos países do hemisfério norte, que desperdiçam água através do consumo de alimentos e poluição, e das nações do sul, onde é preciso melhorar a eficiência no uso da irrigação do solo.
"A água virtual é, evidentemente, uma questão muito política", afirmou, destacando que, ambos, a água virtual e sua migração, são invisíveis e a sociedade precisa ter consciência deste processo para que sejam obtidos avanços com relação ao modo como a água é consumida.
Países como Estados Unidos, Argentina e Brasil "exportam" bilhões de litros de água por ano, segundo Allan; enquanto outros como Japão, Egito e Itália importam bilhões. Allan sugere que os produtos que necessitam uma maior quantidade de água sejam importados de países que possuem mais disponibilidade hídrica.

Comércio de água

Assim como para o clima, o mercado já desenvolveu também ferramentas para lidar com a questão da poluição da água, como nos Estados Unidos, onde em 2003 foi criado um comércio voluntário de créditos de redução de poluição.
Neste sistema, uma indústria ou empresa que tem um alto custo para controlar a poluição que produz pode comprar créditos de redução de poluição de outras que tenham um custo mais baixo para reduzi-la, diminuindo assim os custos para cumprir as obrigações ambientais.
A China também já experimenta a criação de um mercado de água para aliviar as diferenças de disponibilidade dentro do seu território. Em fevereiro deste ano, o país criou um esquema de alocação de direitos sobre a água de províncias, regiões autônomas e municípios que estejam diretamente sob a jurisdição do governo central.
"Enquanto a demanda por água se mantém alta, os resíduos líquidos se mantêm perversos devido ao 'livre acesso' a recursos hídricos atualmente na China", ressalta o gerente do programa chinês da ong Worldwatch Institute, Yingling Liu.
Ele explica que, de acordo com as estatísticas, o coeficiente de utilização do país para irrigação agrícola era de apenas 0,4 a 0,5 em 2003, comparado a 0,7 a 0,8 dos países industriais. O uso de água por unidade do produto interno bruto estava em 413 metros cúbicos, quatro vezes a média mundial, enquanto que o uso de água por valor adicionado pela indústria era de 218 metros cúbicos, 5 a 10 vezes o nível de países industriais.
Em 2000, o país teve uma primeira experiência de comércio de água, quando a cidade de Dongyang comprou 50 milhões de metros cúbicos de água anualmente de Yiwu, por US$ 0,57 por metro cúbico. Até 2005, ambos os lados foram beneficiados, até que uma forte seca atingiu Yiwu. A cidade evitou os custos significativos de ter que construir um reservatório próprio porque Dongyang passou a receber fundo para manter um reservatório existente.
Desde então o país lançou diversos testes em iniciativas locais para aliviar crises de água ou esforços do governo para promover economia. Segundo Liu, isto deu confiança para que os políticos explorassem um esquema nacional, resultando nas regulamentações recentes.
"Se tornar-se efetivamente lei, poderá ser tão significativa quanto a reforma de terra largamente adotada nos anos 50, que liberou os trabalhadores rurais e tornou possível alimentar a nação de 1,3 bilhões de pessoas. Apesar de muito trabalho ainda ser necessário, uma regulamentação é um grande passo em direção ao gerenciamento hídrico na China", disse.


quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Esses desprezíveis invertebrados


13/8/2008


Por Arthur Soffiati


Já se sabe muito bem que extinção de espécies de todos os reinos não é novidade. David Raup costuma dizer que, de todas as espécies criadas pela natureza, apenas restou 1% na atualidade. E, brincando, ele completa: portanto, a vida está extinta. Claro que só pode ser brincadeira para provocar o público em início de palestra. O planeta não comportaria todas as espécies que já o habitaram num só tempo, digamos, na atualidade.
Se não chegássemos ao ponto em que chegamos quanto à capacidade de agredir a natureza, talvez espécies continuassem a se extinguir e a se formar naturalmente. A seleção natural seguiria normalmente seu curso. Mas nosso arsenal interfere mesmo no processo de seleção. Fazemos mudanças genéticas nas espécies e criamos novas, no que se chama de seleção artificial. Criamos condições para mudanças em microorganismos e extinguimos espécies que continuariam existindo se não interferíssemos em suas casas e em suas vidas.
Defensores da natureza e do patrimônio cultural, impotentes diante da capacidade de fogo do mundo ocidental e ocidentalizado pós-revolução industrial, adotaram a política do álbum de fotografia: registram o que podem para deixarem álbuns que folheamos mais tarde melancólicos pelo que perdemos. São recentes as listas dos órgãos mundiais e nacionais de espécies extintas ou ameaçadas porque só recentemente algumas pessoas lúcidas perceberam que o desenvolvimento clássico é incompatível com a biodiversidade.
Em junho deste ano, o IBGE lançou um mapa sobre os invertebrados extintos e ameaçados de extinção, com base na nova lista oficial divulgada em 2005. A área brasileira em que os invertebrados correm mais risco é a Mata Atlântica. Os Estados em que a situação se mostra mais grave são, por ordem, São Paulo (46), Rio de Janeiro (41), Minas Gerais (35), Espírito Santo (24) e Bahia (24).
Estes dados são sintomáticos e de forma alguma casuais. A Mata Atlântica é um dos biomas mais importantes do mundo em biodiversidade, mas também um dos mais ameaçados. Do total estimado que ele apresentava em 1500, restaram apenas 7%. Os fatores da sua destruição foram o desmatamento, a agricultura, a pecuária, a industrialização e a urbanização. Sintomático é também que o estado mais industrializado e urbanizado do Brasil – São Paulo – esteja na liderança da destruição. Neste torneio Rio-São Paulo, o Rio de Janeiro ficou como vice-campeão. Vêm, depois, Minas Gerais e Espírito Santo, todos quatro estados que formam a Região Sudeste, a mais “desenvolvida” do país. Por fim, a Bahia, o estado do Nordeste mais sudestino de todos.
Da lista, quatro invertebrados já são considerados extintos: a formiga Simopelta minima, a libélula Acanthagrion texaense, a minhoca-branca (Fimoscolex sporandochaetus) e o minhocuçu (Rhinodrilus fafner). Os cientistas explicam que o fator mais forte para o desaparecimento destas espécies é a destruição dos seus hábitats. Mas, quando olhamos a lista e verificamos que vinte espécies de borboletas e uma de mariposa sofrem grande ameaça, cabe indagar se, além da destruição do ambiente, a retirada destes animais de suas casas também não estaria concorrendo para a extinção. Embora proibida, a indústria de ornamentos com asas de borboletas continua em atividade.
Em tempos do Programa de Aceleração do Crescimento, quem se interessa por invertebrados? Será que Lula, Dilma Roussef, Mangabeira Unger, Blairo Maggi e tantos outros vão se interessar por estes bichinhos desprovidos de esqueleto interno, bonitinhos uns, nojentos outros, assustadores outros mais? Claro que não. Primeiro os humanos ricos; em seguida, os humanos pobres; depois, nossos parentes vertebrados. Para os invertebrados, o chinelo e os inseticidas.
Nossa ignorância é muito maior que a dos povos nativos de economia simples. Eles sabem que os invertebrados são polinizadores, decompositores e alimento para outros animais. Eles sabem intuitivamente que os humanos e os vertebrados não viveriam por muito tempo na ausência dos sem-esqueleto. Mais que belas florestas, rios e lagoas cristalinos, maravilhosas paisagens, as bactérias, os protozoários, os fungos, as plantas e os invertebrados é que fazem o planeta funcionar.